– por Paula Musique –
(Recebemos milhares de visitas todos os meses por aqui -obrigada!- e, pouco a pouco, quero falar mais de artistas-destaque, pois este é um dos objetivos de conscientização do Movimento Música Nobre)
O concerto que presenciei hoje me deixou exultante, ao mesmo tempo que exasperada. Indignou-me prestigiar, mais uma vez, um concerto da Camerata Florianópolis e poder contemplar tantos talentos no palco que mereceriam ter uma projeção muito maior do que têm. Sei que eles estão bem encaminhados: já tocaram no Rock in Rio para Steve Vai e em outros palcos para Zeca Baleiro e Lenine, por exemplo.
Por um lado, sinto aquele gostinho especial de: “ah, a Camerata é quase que um segredinho dos manezinhos da ilha*, é um grupo que agracia municípios do estado de Santa Catarina e outros países de vez em quando, mas no fundo, é nossa Camerata, é da ilha, e é bom que fique assim, sendo bem nossa”. Mas por outro lado, tenho aquela sensação de que deveria compartilhar deste “segredo” com o mundo todo: eles deveriam estar nos grandes canais de TV e do YouTube, deveriam ter mais seguidores e muito mais visualizações em suas redes sociais. Eles poderiam inspirar mais e mais brasileiros a buscar uma carreira na Música, a aprender um instrumento musical, a querer entender o que significa os gestos da regência e como os arranjos para uma orquestra são feitos.
Entretanto, você vê o quê? Vê um tal de Kon#&?$$% (não falo palavrão) com mais de 23 BILHÕES de visualizações no YouTube e se pergunta: “afinal, qual é o conhecimento e a cultura musical do brasileiro”? E quase sempre você e eu temos vergonha de responder esta pergunta.
Quando falo da Camerata Florianópolis, não me refiro apenas aos músicos da orquestra de câmara e ao seu maestro Jefferson Della Rocca, mas sim ao que ela representa com sua variedade de repertório, de artistas convidados e do público que atinge. Tive estes pensamentos mencionados acima enquanto assistia o concerto sobre o qual você lerá abaixo. Mas antes, que tal conhecer um pouco sobre eles? Continue aqui comigo, não vá embora, pois vai valer a pena.
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A CAMERATA FLORIANÓPOLIS
Foi fundada em 1994 pelo maestro Jeferson Della Rocca e atua desde então, cumprindo uma agenda ativa em Santa Catarina. Estamos no Aniversário de Prata da orquestra, pois completa 25 anos. Já gravou doze CDs e dois DVDs, sendo que a produção executiva é de Maria Elita Pereira.
No Canal do YouTube os vídeos mais vistos deles são Rock’n Camerata – Ária Martern Aller Arten da Ópera O Rapto do Serralho de Mozart:
E um cover de Rolling Stones – Satisfaction do espetáculo Rock’n Camerata:
Foi o repertório camerístico que trouxe reconhecimento à orquestra, entretanto a Camerata tem se destacado e se dedicado nos últimos anos também ao trabalho sinfônico e operístico. Como se não bastasse, provando ser uma equipe de muita versatilidade e criatividade, a orquestra passou a apostar em concertos temáticos como:
– Rock’n Camerata
– Camerata in Jazz
– Tributo à MPB
– Ópera-Rock Frankenstein (autoria de Alberto Heller)
– Música para Cinema
– Marley in Camerata
– Especial Beatles
Uma das coisas que mais admiro nesta orquestra é o estímulo à composição erudita contemporânea brasileira, além da criação de arranjos camerísticos que abrangem os mais diversos estilos e gêneros musicais.
Parabenizo a produção da orquestra que entende que a “arte pela arte” (ars gratia artis) não se sustenta no século XXI – na maioria dos casos, e que é, sim, necessário ter um visão empreendedora da arte para que se possa conquistar diferentes públicos.
“Não há nobreza maior do que brilhar com a alegria de se estar no topo e, ao mesmo tempo, sorrir com a humildade de quem lembra de como tudo começou” – Paula Musique
Leitor, sente só a estratégia (não sei se foi intencional ou não por parte da direção da orquestra, mas minha visão analítica percebeu isto anos atrás com a Camerata): há muitas pessoas que dizem não gostar de música erudita, pois não entendem o que está acontecendo e acham isto chato, pois não é música para dançar ou levantar os braços e balançar (risos). E há pessoas que não gostam de pop ou reggae, pois classificam estes como gêneros inferiores à música erudita. Pois vejam:
– pessoa (A) que é apreciadora de música erudita frequentava diversos concertos da Camerata inicialmente
– pessoa (B) que não gosta de música erudita, mas é fã de rock, MPB ou reggae vai pela primeira vez e começa a frequentar os concertos da Camerata a partir do momento que oferecem espetáculos temáticos
– pessoa (A) da música erudita é tão fã do trabalho da Camerata, que se rende a conhecer seus concertos “alternativos”, começa a enxergar outros gêneros de maneira diferente e passa a ser espectador de todas as “alternativas”
– pessoa (B) avessa à música erudita torna-se fã dos espetáculos de rock, reggae, MPB ou jazz decidindo dar uma leve chance a um concerto clássico da orquestra que ele tanto gosta. E? Beethoven e Mozart, simpaticamente interpretados, caem nas graças dele
RESULTADO: A e B têm o preconceito musical erradicado e, vez ou outra, encontram-se pelos corredores do teatro nos concertos de todos os tipos.
Assim, a orquestra também contribui para a formação de plateia e estímulo à educação musical.
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Você sabia que George Harrison (The Beatles) gravou uma música brasileira?
A “arte pela arte” (ars gratia artis) não se sustenta no século XXI – na maioria dos casos, e é necessário ter um visão empreendedora da arte para que se possa conquistar diferentes públicos – Paula Musique
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O ESPETÁCULO POP CAMERATA
O Teatro Ademir Rosa do Centro Integrado de Cultura (CIC) lotou e vibrou com uma plateia de quase 900 pessoas. A orquestra estreou ontem um espetáculo intitulado POP Camerata e reapresentou hoje. Os arranjos foram feitos pelo pianista e compositor Alberto Heller e nos vocais estavam Mércia Maruk, Dudu Fileti, Luana Laus e Cadu Duarte. A banda base contou com Hique D’Avila na guitarra, Baba Junior no baixo, Cristiano Forte na bateria e Alberto Heller ao piano. A supersoprano Carla Domingues fez uma participação especial.
O concerto durou 1h40, sem intervalo. A programação contou com 16 canções (mais 2 bis) e dentre elas havia arranjos desde Bee Gees, Michael Jackson e Madonna até Maroon 5, Adele e Beyonce.
Eu, particularmente, achei o repertório muito equilibrado com hits pops de várias épocas e com características distintas – escolha estratégica para agradar toda a audiência, pois cada um conseguia se identificar mais com pelo menos uma canção. Eu me identifiquei com quase todas, desde as músicas com uma pegada mais romântica até as mais dançantes.
O maestro e a orquestra estavam contagiantes. Afinação em dia e expressividade também. Observadora como sou, tento olhar nos olhos de cada artista para perceber o que estão sentindo. Usei a ajuda de meu celular para dar zoom umas vezes. Impressionante como muitos dos músicos, principalmente os violinistas tocavam com os olhos e com o corpo (“dançando violinisticamente”). Peguei alguns diversas vezes sorrindo, provando o quanto amam o que fazem e como estavam curtindo os belos arranjos de Heller. O maestro Della Rocca sempre muito simpático, conduzindo todos com profissionalismo. A banda base deu o gingado e a batida pop imprescindível ao show. Os solos de guitarra foram muito convincentes!
E o que dizer dos vocalistas? Bela seleção de cantores convidados, todos com experiência em palco, domínio das harmonias vocais, comunicação visual nota 10 e solos impecavelmente interpretados. Pensando aqui para nomear meu cantor da noite, custei a definir um, mas escolho Mércia Maruk. Uau! Que domínio de palco é aquele? Que segurança! Desde os acessórios brilhantes usados e ritmo dos cabelos até a dança e o controle de voz, nem sei o que dizer. Miss Maruk, você merece o mar e o UK. Got it?
Tanto a equipe de sonorização quanto de iluminação fizeram um ótimo trabalho.
Ah, quando recebi a programação assim que entrei no teatro e vi que não havia Coldplay fiquei meio assim, sabe; mas “para a nossa alegria” a música final de bis foi qual? “Viva La Vida” de Coldplay. Sim. Sou muito #abençoada #sortuda. E ao fim, a plateia toda ficou de pé cantando “Ôoo ôo”.
Minhas músicas favoritas no POP Camerata:
– Shallow – Lady Gaga
– I Will Survive – Gloria Gaynor
– This Love – Maroon 5
– Uptown Funk – Bruno Mars
Pensei e repensei para identificar algum aspecto negativo, mas não encontrei. Nenhum espetáculo ocorre 100% como planejado em seus detalhes, mas não houve NADA negativo que fosse perceptível ao público. Talvez um intervalo na metade do show teria sido bom para os músicos descansarem.
Sabe aquele tipo de concerto que todos têm de ir pelo menos uma vez na vida? Você se encanta com a qualidade, acomodado num teatro aconchegante, levanta e dança de vez em quando e depois de tudo, a caminho do estacionamento fica cantarolando as favoritas da noite e sorri quando percebe que tem mais gente fazendo isso perto de você.
Orgulho imenso de ser catarinense!
Compartilhe esta crítica com seus amigos para que eles sejam instigados a apreciar Música Nobre.
*apelido carinhoso dos nativos de “Florianopix” (“E tu? Éx manezinhu da ilha, éx?” Dix pra mim, dix ô seu istepô”)
Ficam aqui duas sugestões para a orquestra:
– Camerata Hits de Natal
– Gospel Camerata
Afinal, qual é o conhecimento e a cultura musical do brasileiro? Quase sempre você e eu temos vergonha de responder esta pergunta – Paula Musique
Deixe seu like e comente (o espaço dos comentários fica depois de todas as fotos a seguir):
Você já foi a algum espetáculo da Camerata Florianópolis? Qual sua opinião sobre o trabalho deles?
O que você acha da nossa indústria da música no Brasil?
Você acha que o brasileiro recebe a educação musical necessária para poder escolher conscientemente o que ouvir?
(RECADO/CRÉDITOS: Após ter acesso às dúzias de belíssimos registros da fotógrafa Toia Oliveira, que eu não conhecia, referentes aos dois dias de POP Camerata, tive que editar este post original e acrescentar, abaixo, mais fotos – sensacionais!)
Camerata Florianópolis:
PRIMEIROS VIOLINOS
Iva Giracca (spalla),
Elias Vicente,
Talita Limas,
Bruno Jacomel,
Debora Remor
SEGUNDOS VIOLINOS
Mario Marçal,
Débora Bohn,
Liz Maria Oliveira,
Elias Zanon
VIOLAS
Leonardo Piermartiri,
Mariana Barardi,
Fernanda Buratto,
Fausto Kothe
VIOLONCELOS
Ernesto Medolla,
Daniel Galvão,
Érico Schmidt,
Hugo Reggiardo
CONTRABAIXO
Gabriel Bohn
MAESTRO
Jefferson Della Rocca
PRODUTORA
Maria Elita Pereira
ARRANJADOR
Alberto Heller
PRESIDENTE
Arlete dos Santos
COORDENADOR DE PALCO
Leonardo Boechat
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