Sarah Chang no Brasil com a Concertgebouw Chamber Orchestra – em Florianópolis
Foto: sarahchang.com
– por Paula Musique –
Sarah Chang no Brasil
Hoje, Florianópolis recebeu uma das maiores violinistas da atualidade, Sarah Chang (EUA), juntamente com a Concertgebouw Chamber Orchestra (Holanda) para um concerto no palco do Teatro Ademir Rosa.
Sarah Chang nasceu em 1980, na Filadélfia, filha de pai violinista e mãe compositora – ambos coreanos. A pequena Sarah era considerada uma criança prodígio e teve uma notável estreia aos 8 anos, quando tocou com a New York Philharmonic e desde então continua a impressionar audiências ao redor do mundo por seu virtuosismo e expressividade. Além de ter se apresentado com orquestras estadunidenses, tais como: New York Philharmonic, Los Angeles Philharmonic, Philadelphia Orchestra, Chicago Symphony, National Symphony Orchestra, Boston Symphony e Houston Symphony, ela também já fez turnê na Áustria, França, Alemanha, Itália, Suíça, Reino Unido, China, Japão, Singapura, Australia, Nova Zelândia e vários outros países. Ela voltou ao Brasil para apenas duas apresentações: uma em São Paulo e uma em Florianópolis. Formada pela Julliard School (New York), Srta. Chang toca em um violino Guarnieri del Gesu, de 1717, comprado por ela quando ainda era uma adolescente.
A Concertgebouw Chamber Orchestra (CCO) de Amsterdam
A Concertgebouw Chamber Orchestra (CCO) é formada por músicos da mundialmente famosa Royal Concertgebouw Orchestra de Amsterdam. A CCO tem se apresentado nas mais importantes solenidades. Suas gravações receberam da famosa BBC Music Magazine as mais altas qualificações (5 estrelas) pela técnica apurada e beleza da performance.
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O repertório preparado para os concertos no Brasil incluíram o Concerto para Dois violinos em Ré menor (BWV1043) de Bach, a Serenata Op.22 de Dvořák e As Quatro Estações de Vivaldi.
E no concerto de hoje, a Concertgebouw Chamber Orchestra me surpreendeu. Como noto cada detalhe, desde o fato de que todos os homens usaram sapatos de verniz preto até as piscadelas que os músicos de mesmo naipe davam uns aos outros, tenho que dizer que me deleitei com a sonoridade deles e o comportamento em palco. A CCO veio com 1 contrabaixo, 3 cellos, 4 violas, 1 cravo e 10 violinos (sendo um deles o concertmaster – Michael Waterman), sem a presença da figura do maestro, ou seja, o concertmaster ou a solista atuavam como “regentes”.
Sarah Chang mostrou porque é mundialmente reconhecida como uma das mais cativantes e talentosas intérpretes da música clássica. Ela é o espetáculo inteiro, dos pés a cabeça, dos sons à simpatia, da simplicidade humana ao talento não tão humano assim.
“… ela estava dentro da música e a música estava dentro dela” – Paula Musique
Primeira Parte – BACH E DVORAK
Eu estava num excelente assento. Na execução das primeiras duas peças, todos estavam de pé tocando. Ainda não tinha visto uma orquestra fazendo uma performance assim no palco do Teatro Ademir Rosa. Todos tocando alegremente, de pé, por uma hora. O concerto de Bach começou pianinho, tão suave que eu até estava preocupada me perguntando se a audiência lá do fundão conseguia ouvir. Mas toda aquela suavidade fazia parte do show de dinâmicas que eles estavam prestes a nos dar. Este é um dos pontos que eu, particularmente, observo quando vou à concertos de música erudita ou a shows de música popular. DINÂMICA. Eu sempre considerei que os músicos e cantores que fazem questão de trabalhar bem a intensidade dos sons são músicos superiores. Chang e CCO fizeram-me sentir diferentes emoções apenas pelo controle técnico de intensidade. E o que falar da violinista Jae-Won Lee (CCO) que fez duo com Chang em Bach? Uau! Técnica apuradíssima, contato visual com a solista principal, simpatia pura e capacidade de fazer a audiência perceber o diálogo que estava acontecendo entre os dois violinos.
PAUSA PARA REFLEXÃO: Como no Brasil, acha-se que Música não precisa ser curricular nas escolas e que a Arte em geral é apenas para os estudantes se divertirem, isto acaba gerando jovens e adultos que não sabem se comportar em concertos. Vou tomar partido e defender as pessoas que se “comportaram mal”, pois tenho certeza que não foi intencional, apenas não aprenderam que existem algumas regrinhas básicas para concertos: NÃO SE DEVE APLAUDIR ENTRE UM MOVIMENTO E OUTRO (acho que vou fazer um post especialmente sobre isso). Ou seja, na primeira peça, havia 3 movimentos (vivace, largo ma non tanto e allegro). Quando um movimento acaba, os músicos fazem uma brevíssima pausa para se prepararem pro próximo movimento e se a plateia começa a bater palmas, isto tira a concentração deles e corta a atmosfera que havia sido criada com o movimento anterior (explicação bem superficial). E no espetáculo de hoje, a cada movimento que terminava, metade do teatro aplaudia. Além disso, imagino que pela mudança de tempo muitos tenham ficado adoentados e havia muita gente tossindo. E às vezes, tossiam muito alto, bem na hora do pianissimo da orquestra. Novamente digo: é “porque não sabem o que fazem”. Se tivessem sido instruídos na escola, não aplaudiriam entre movimentos e aprenderiam o “etiqueta da tosse”.
Back to Chang! Tanto ela como os músicos da orquestra foram tão gentis e compreensivos que davam sorrisinhos agradáveis quando a plateia aplaudia entre movimentos. Em verdade, Sarah dava umas risadinhas fofas acompanhadas de “thank you” e dava aquela olhada pros colegas de palco. Era como se pensasse enquanto sorria: “oooh, como estes brasileiros são fofos, a maioria não sabe que isto me tira a concentração e não deveriam bater palmas, mas eu sei que fazem com boas intenções e fico feliz por saber que estão curtindo todos os movimentos de todas as peças” (risos). Houve um outro momento durante a primeira parte em que, abruptamente, a iluminação ficou mais forte e alguns músicos levaram um susto e (mais uma vez) deram uma risadinha enquanto olhavam para as partituras.
Após o concerto de Bach, Chang se retirou, sendo muito aplaudida e teve início a Serenata de Dvořák, executada somente pela orquestra. Excelente performance.
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Segunda Parte – AS QUATRO ESTAÇÕES DE VIVALDI
Após o intervalo, retornamos para a segunda parte. Sarah retornou ao palco com aplausos e começaram uma das mais célebres obras musicais da história: As Quatro Estações de Vivaldi. Chang executou a peça de memória com uma desenvoltura incrível. Ela toca de um jeito que faz parecer tudo muito fácil; mas não é nada fácil. No largo da Primavera, ela já conseguiu me emocionar. Chang tocou com tanta expressividade que era como se ela fosse responsável pelo desabrochar das flores da estação. A performance da noite estava tão intensa, tão cheia de sentimento que Chang arrebentou um fio de crina do arco de seu violino durante a Primavera. Fiquei observando como ela reagiria. Bom, reagiu como a violinista de prestígio que é: continuou tocando como se nada tivesse acontecido e aquele fio ali pendurado não a abalou. Quando acabou o movimento, ela arrancou o fio de crina e, graciosamente, deu início ao Verão, aquecendo nossos corações.
Tanto no Outono quanto no Inverno, a performance da Concertgebouw Chamber Orchestra e de Sarah Chang foi, também, motivo de regozijo para os ouvidos e para os olhos. O contato visual de Sarah Chang com os músicos e a simpatia com a plateia eram perceptíveis. A expressão corporal dos músicos da CCO era sublime e a de Chang, como solista, claro que se destacava muito mais. Os intérpretes que me fascinam são aqueles que além de tocar com os dedos, tocam com os olhares e com o corpo inteiro. E assim, Sarah Chang fez: sua expressão facial revelava o tom que ela queria transmitir com cada arcada, o movimento de seus ombros, de seus braços e até mesmo de suas costas quando se inclinava para frente e para trás, convenciam-me de que ela estava dentro da música e a música estava dentro dela.
“Ela é o espetáculo inteiro, dos pés a cabeça, dos sons à simpatia, da simplicidade humana ao talento não tão humano assim” – Paula Musique
Ao fim da performance, a plateia aplaudiu de pé por alguns minutos, com alguns brados de “bravo”. Sarah murmurou algo com o concertmaster e executaram mais uma obra barroca: Ária na Corda Sol (peça que faz parte da Suíte nº 3 para Orquestra, em Ré Maior, de Bach BWV 1068 escrita para o Príncipe Leopoldo, no início do século XVIII). Em 5 segundos de execução, o público reconheceu a canção e foi possível ouvir aquele “aaaah”, num tom de suspiro gostoso.
Os músicos foram aplaudido de pé mais uma vez e saí do teatro encantada com o mundo da melodia, harmonia, ritmo e timbres.
E tenho a sensação de que Chang e a orquestra holandesa gostaram bastante de tocar para nossa plateia de brasileiros “batedores de palmas”. Mas espero que na próxima vinda deles ao Brasil, nossa plateia esteja mais madura e ciente de que não se deve aplaudir entre movimentos em um concerto. ;)
P.S. Quero fazer aqui um parágrafo apenas para mencionar novamente a suavidade de hoje. O p, pp e ppp (piano, pianissimo e pianississimo) destes músicos atingiram minha alma!
P.S2 O contrabaixista também merece umas palavras. Era apenas um tocando e deu conta do recado como ninguém. Performance notável!
Sarah, os 10 anos, tocando “Carmen Fantasy” de Pablo de Sarasate:
Aqui, você pode conferir Sarah tocando o terceiro movimento (presto) do Verão das Quatro Estações de Vivaldi, num Music Camp (acampamento de música) para extraordinary students (estudantes de altíssimo nível):
E abaixo, temos o vídeo da bela Concertgebouw Chamber Orchestra executando a Serenata para Cordas de Elgar:
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