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Einstein
Playlists com músicas especiais para você

Apresento-lhe este gênero musical tão pouco conhecido pelo povo de nosso Brasil: a modinha brasileira.

Imagem: Reprodução

– por Paula Musique –

Quem acompanha o blogue já sabe que um dos objetivos aqui é a difusão do Movimento Música Nobre, sendo que “música nobre” não se refere à música dos nobres da realeza; mas sim, significa música que respeita e música que é respeitada. Música nobre é aquela que faz o bem e que não encoraja a objetificação das mulheres (e nem dos homens!) e tampouco a sensualização das crianças.

Em nosso contexto atual e histórico, temos muitos compositores e músicos nobres que merecem destaque. E há um gênero musical que foi muito popular séculos atrás e está quase que esquecido. No meio acadêmico-musical ele permanece vivo, mas caso você não seja do meio, quero presentear você com minha indicação musical de hoje: a MODINHA BRASILEIRA.

“A semente da música brasileira foi plantada com a mistura musical que envolvia
a música erudita e popular, de portugueses e brasileiros, brancos e negros, nobres e escravos, elite e povo
– todos em uníssono cantando e tocando o lundu e a modinha brasileira” 
– Paula Musique

Sugiro que você clique na canção a seguir e escute enquanto lê este artigo:

PORTUGAL E O FADO

[Dica: leia este parágrafo com sotaque português – fica muito mais charmoso]
Modinha brasileira é diferente do fado português, mas sabe o que me vem à mente? Quando fui à Portugal – e não vejo a hora de retornar -, fui a um belo lugar em Coimbra tomar café no fim de tarde, pois havia recebido um panfleto a comunicar que haveria fado ao vivo lá. O que dizer? Amei ouvir aquele senhor cantar, a usar uma toga preta e acompanhado por violões. Foi uma experiência diferente tomar café com vontade de chorar, de tãaaao triste que eram aqueles fados. Dias depois, em Lisboa, em algum bairro muito lindo e popular que esqueci o nome, fui jantar arroz de tamboril (prato tradicional português maravilhoso!) num restaurante cuja trilha sonora também era o fado. Achei muito fixe!
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RECOMENDAÇÕES DE UTILIZAÇÃO

Fico imaginando como seria envolvente se existisse uma casa de chá por aqui com apresentações semanais ao vivo de modinha brasileira. Já me imaginei com minhas amigas, falando de romance ao som de palavras de amor (risos).

Não é o tipo de música que cantamos na rodinha de amigos ou que colocamos na playlist da festa de aniversário. Porém, quero encorajar você que está cursando Música na universidade, para preparar uma modinha para tocar ou cantar no final do semestre. E você que está fazendo planos para seu casamento, pode incluir alguma modinha no repertório da cerimônia ou da festa – dará um toque de glamour.

Você pode estar pensando: “bem que esta que nos escreve poderia ir direto ao ponto e falar logo o que é modinha, de onde vem e citar mais exemplos para escutarmos” (risos). Honey, não posso. Sabe por quê? Porque não seria Blogue Paula Musique. Para quem não gosta, basta ir à Wikipedia que obterá respostas rápidas e sucintas. ;)

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O QUE É A MODINHA BRASILEIRA

É um gênero musical de canções líricas, sentimentais, que praticamente sempre falam de romance e que, às vezes, são declarações diretas de amor.

“Modinha é a mais rica das formas pela qual se manifesta a inspiração poética do nosso povo” – José Veríssimo

COMO SURGIU A MODINHA BRASILEIRA

Este gênero está nas raízes da música popular tanto do Brasil quanto de Portugal. Segundo Monteiro (2018), vem da moda portuguesa, que migrou dos meios rurais para os grandes centros urbanos e colônias do Império Português – que inclui o Brasil -, entre os séculos XVII e XVIII.

A palavra moda ganhou o diminutivo modinha para identificar este gênero que sofreu adaptações da cultura brasileira, caiu no gosto do povo e ficou sendo chamada de “modinha brasileira”.

Ou seja, a moda portuguesa encontra no Brasil um lugar para se desenvolver. Pouco a pouco, mistura-se com o lundu, música praticada pelos negros da colônia, originando a partir daí a modinha brasileira, que passou a ser um gênero próprio – distinto da moda que veio de Portugal. Entretanto, quando foi levada a Portugal, encantou a corte e a sociedade portuguesa da época.

Existe um consenso entre a maioria dos estudiosos explicando que foi o poeta e músico mulato brasileiro Domingos Caldas Barbosa (filho de um português com uma mulher angolana escravizada) o responsável pela introdução da modinha brasileira em Portugal, pois, após passar sua juventude em contato com modinhas e lundus no Rio de Janeiro, vai a Lisboa e lá difunde estes gêneros, passando a ser cultivados nos salões por compositores eruditos.

Confissão: tenho uma queda por músicas de caráter lírico, que, para mim, vai do fado à modinha, dos musicais clássicos até a ópera. Um deleite para os ouvidos!

Se estiver gostando, já deixe sua curtida para não esquecer depois. Deu MUITO trabalho escrever este artigo e uma forma de você me dar um “oi” e apoiar este trabalho é deixando seu like. ;)

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CARACTERÍSTICAS DA MODINHA BRASILEIRA

A biografia da modinha é cheia de contradições, mas suas características revelam-se, ao longo do tempo, bastante amplas.

A modinha não têm uma estrutura rígida. Pode ou não ter introdução ou coda. Pode ter duas ou três estrofes, por exemplo. Há predominância de tonalidades menores e de andamentos moderados. O canto é, normalmente, acompanhado por violão, flauta, cravo e/ou piano. A formação instrumental para a qual foi escrita também variou conforme a história.

Em decorrência das diversas influências, encontra-se, na análise de partituras e relatos, grande variedade de formas (em duas estrofes A-B; em duas estrofes e refrão A-A-B; em estrofe e refrão A-B; em duas estrofes e “stretto”, que faz às vezes refrão A-A-D), compassos inicialmente binários que, notando a influência das danças ternárias que surgiram, principalmente, a partir da chegada em 1808 da Corte Portuguesa ao Brasil – citamos a valsa, scottish, polcas, dentre outras – adotou o compasso ternário.

O prestígio da moda era tal que até virou trocadilho: “está na moda, no reinado de D. Maria I, cantar a moda”.

A moda a duo ou solo era executada por solistas de escola e por mestres de contraponto. Os compositores das modas portuguesas, ou eram músicos que compunham ópera, como Marcos Portugal; ou compositores sacros de renome como Pe. José Mauricio. Inicialmente, “modas requeriam o cravo e a voz empostada” (ARAÚJO, 1963, p. 30). Tendo, quando popularizada, admitido o violão e cantada por seresteiros e românticos.

A modinha é tida, juntamente com o lundu, como das principais raízes da música popular brasileira. É através do lundu que a cultura africana nos dá a síncope: o seu maior legado à música brasileira e que dará origem ao samba mais tarde (Andrade, 1972). Ambos os gêneros – modinha e lundu – passaram por uma socialização, uma reciclagem, uma adaptação à outras esferas sociais; eram música de salão e também música das ruas – era a criatividade e musicalidade da elite e do povo misturadas e formando as raízes da música do Brasil.

Marcondes (1998) explica que:

“Só nos fins do Império e começos da República, a modinha, já inteiramente aculturada, reflete a sensibilidade e o gosto do povo brasileiro. A modinha se populariza. Deixa o recinto fechado dos salões e se expande nas ruas, ao relento, nas noites enluaradas, envolta nos acordes do instrumento que, no Brasil, se tornou o seu companheiro inseparável – o violão. É a fase em que pontificam Laurindo Rabelo, Xisto Bahia, Melo Morais Filho, Catulo da Paixão Cearense”.

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PRINCIPAIS LETRISTAS E COMPOSITORES

Dentre os principais compositores torna-se indispensável citar, novamente, Caldas Barbosa (1740-1800), tido por muitos como o “pai da modinha”.

Domingos Caldas Barbosa
Imagem: Revista do Instituto Histórico e Geográfico do Brasil

São apontados, ao longo da história, os nomes de Gregório de Matos (1633-1696), Antônio José da Silva – o Judeu (1705-1739) e Tomás Antônio Gonzaga (1744-?1808) como precursores da modinha.

Cabe mencionar também Joaquim Manuel, outro mestiço brasileiro que teve a honra de ser editado em Paris, em 1824, num álbum de vinte modinhas harmonizadas por Sigismund Neukomm, o discípulo preferido de [pasmem!] Joseph Haydn (1732-1809) que morou no Rio de Janeiro de 1816 a 1821 [Haydn não morou no Brasil, foi o Neukomm].

Durante o primeiro reinado cita-se: Cândido Inácio da Silva, Gabriel Fernandes da Trindade, Padre José Maurício Nunes Garcia, Padre Teles, Leal e outros. Durante o segundo reinado: Gonçalves Dias, Castro Alves, Álvares de Azevedo, Casimiro de Abreu e Fagundes Varela – estes tiveram a letra de seus poemas musicados.

// … era a criatividade e musicalidade da elite e do povo misturadas e formando as raízes da música do Brasil.

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A MODINHA BRASILEIRA NOS DIAS DE HOJE

O grau de influência da modinha na MPB de hoje está no lirismo das letras e na harmonia das melodias.

Mário de Andrade (1972) observou que:

“À medida que esta (a modinha) desaparece ou vive mais desaparecida dos seresteiros, vai sendo, porém, substituída pelo samba-canção, que é realmente uma modinha nova, de caráter novo, mas canção lírica solista, apenas com uma rítmica fixa de samba, em que, porém, a agógica não é mais realmente coreográfica, mas de canção lírica. Ora, isso é uma evolução lógica, por assim dizer, fatal. A modinha de salão, passada pra boca do povo, adotou mesmo ritmos coreográficos, o da valsa e o do xote principalmente. Ora, estes eram sempre ritmos importados, não de criação imediata nacional. O samba-canção é a nacionalização definitiva da modinha”.

Inúmeros gêneros musicais brasileiros da atualidade estão enraizados neste passado bem distante.

Araújo (1963) opina assim: “dizem que a modinha morreu. Ela não morrerá, porque já não é mais uma canção, mas um estado de alma. Ela está na própria essência emotiva da nacionalidade”.

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A que ponto chegamos. Vemos aqui a história da mistura musical que envolvia a música erudita e popular, de portugueses e brasileiros, brancos e negros, nobres e escravos, elite e povo em uníssono plantando a semente da música do Brasil.

Orgulho-me do plantio. A colheita de anos passados também me orgulha, na maior parte do tempo. Porém, parece-me que em meio à safra dos anos mais recentes há alguns frutos podres. Estaria, eu, sendo radical?

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VOCÊ JÁ CONHECIA A MODINHA BRASILEIRA?
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PLAYLIST DA MODINHA BRASILEIRA

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BIBLIOGRAFIA

ANDRADE, Mário de. Ensaio sobre a música brasileira. São Paulo: Martins Fontes, 1972.
ARAÚJO, Mozart. As Modinhas e o Lundu no século XVIII. São Paulo: Ed. Ricordi, 1963.
KIEFER, Bruno. A Modinha e o Lundu. Porto Alegre: Ed. Movimento 2ed, 1986.

LIMA, Edilson. As Modinhas do Brasil. São Paulo: Ed. da USP, 2001.
MARCONDES, Marcos (org.). Enciclopédia da Música Brasileira: Erudita, Folclórica e Popular. 2 ed. São Paulo: Art Editora, 1998.
MONTEIRO, José. Modinha: um estudo etimológico sobre o termoRevista Intellèctus, ano XVII, n. 1, p. 125-143, 2018.
VALENÇA, José. Modinha: Raízes da Música do Povo. São Paulo: Empresas Dow, 1985.

LIVROS SOBRE A HISTÓRIA DA MÚSICA ERUDITA

Se você gosta de história, se você gosta de ler biografias e de perceber como o mundo foi se transformando com o passar dos anos, então você vai curtir muito conhecer a História da Música e saber mais sobre os compositores e músicos que revolucionaram a mais bela das artes na época em que viveram. Bach, Mozart, Beethoven, Liszt, Schumann, Debussy, Schoenberg. Óperas, concertos, sinfonias, prelúdios, sonatas. Surdez, loucura, inveja, tragédias, doenças, reis, corações partidos, mistérios. DELÍCIA! Ouvir uma peça de Chopin após ter lido sobre sua vida e o período em que viveu tem um gosto diferente. Recomendo que você escolha pelo menos um bom livro de História da Música para ler por inteiro e ter em sua biblioteca.

Se você é professor de música, falar sobre este assunto já faz parte do seu planejamento de aula e poder aprender novos detalhes para compartilhar certamente dá aquele plus para suas aulas e os alunos adoram ouvir as curiosidades sobre a vida dos compositores – que era cheia de drama e inspiração para as músicas que escreviam.

Abaixo recomendo 4 OPÇÕES para você. Dependendo do nível que você está na música, há livros mais adequados para você. Os livros mais críticos são interessantes para quem já conhece o básico sobre as características dos períodos históricos e dos compositores e quer ser instigado a refletir sobre aspectos mais profundos da música erudita, além de conhecer curiosidades sobre os compositores que não se aprende em aulas básicas de HMus. Se você é iniciante, é mais apropriado ler primeiro um livro informativo sobre o básico de cada compositor e período histórico, além de escutar o repertório dos referidos artistas. História da Música é bom demais e, vai por mim, depois que você ler sobre o assunto, ouvir Vivaldi, Haydn ou Tchaikovsky terá outro sabor.

Sugiro alguns livros de História da Música para você
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Uma Breve História da Música
História da Música Ocidental
O Triunfo da Música: a ascensão dos compositores, dos músicos e de sua arte
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Paula Musique
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  1. ROMOLO CIUFFO 30/04/2020

    Trabalho nota 1000. Também da música, há um Brasil que os brasileiros desconhecem (ainda). Parabéns … muitos parabéns.

  2. Maria 04/05/2020

    É bom conhecer a história da música. Aprendi bastante lendo este artigo.obrigada.

  3. Patricia 11/05/2020

    Não conhecia esse tipo de música, fui ouvir e achei bem legal! Muito bom o post, seu blog é de utilidade pública.

  4. Luana Souza 15/05/2020

    Seus posts são sempre muito completos. Não conhecia esse gênero de música nacional, e acho que já disse em algum post seu que não escuto muito músicas brasileiras, apesar de amar as poucas que ouço. Adorei saber dessa denominação e fiquei tentando lembrar se eu conhecia alguma música que se encaixasse nela.

    • Paula Musique respondeu Luana Souza 21/05/2020

      Obrigada, Luana!
      Pois é. Dizem que um boa parte dos brasileiros escuta pouca música nacional.
      Eu mesma considero que escuto pouco.

  5. Helaine 15/05/2020

    Aquele post que agrega valor e informa a gente com tanta coisa boa. Eu amei!
    Eu não conhecia o gênero mas achei muito interessante.

  6. Luly Lage 18/05/2020

    Eu vejo a modinha não só como um gênero “requintado”, mas também bastante… Não sei que palavra usar! Intimista, talvez? Sempre que estou num ambiente onde ela predomina sinto o lugar automaticamente mais pessoal, até menor – mas não claustrofóbico nem nada do tipo, Muito pelo contrário!
    Li você falando sobre o tomar chá com as amigas e lembrei muito de um restaurante onde eu e minha irmã costumávamos ir com meu pai quando ele tinha carro que serve caldos e toda noite tem música ao vivo, de gêneros variados. Pegamos uma noite de modinhas uma vez e foi bem gostoso! Principalmente por essa minha visão direcionada do estilo, combinou demais. Porém não é o tipo de música que eu colocaria pra tocar no meu casamento, por exemplo, justamente por passar um requinte que não tem nada a ver comigo, hahahaha!

    Mas é gostoso! Bem gostoso! Vontade de tomar caldo num rodinha bem agora!

    • Paula Musique respondeu Luly Lage 21/05/2020

      Que sortuda, Luly!
      Modinha ao vivo é para poucos.
      Em cidades mais culturais é que se tem mais chances de ouvir algo assim.

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